Na semana passada, Santa Cruz do Sul teve uma bela surpresa ao descobrir que é natural daqui a patrona da 63ª Feira do Livro de Porto Alegre que acontecerá entre os dias 1º e 19 de novembro. E Valesca de Assis é o nome dela. Como eu não conhecia nenhuma das publicações da autora, que estreou em 1989, achei muito justo buscar uma leitura e compartilhá-la com os leitores do Riovale Jornal e do blog. Afinal, a literatura feita por pessoas daqui vem ganhando um destaque cada vez maior, e é dever nosso valorizá-la.
Então comecei pelo começo. Uma breve busca pela internet me apontou que o primeiro livro de Valesca foi o volume “A Valsa da Medusa”, lançado, como já disse, em 1989, pela editora Movimento – com reedição em 2009 pela Edunisc. E acho que foi uma boa escolha, porque me intrigou desde o início o fato de um livro de estreia ser tão interessante. “Se esse volume - o primeiro dela - é tão bacana, como serão os demais?”, pensei.
Com 116 páginas, o romance é curto e bastante simples, mas tem vários pontos interessantes que podem ser ressaltados. O primeiro deles é a forma como Valesca escolheu contar a história de amor de Tristan e Pauline, os personagens principais. A mim pareceu muito mais realista do que outras histórias de amor. Com todas as dificuldades inerentes de um amor proibido e vários elementos que remetem à trágica história de Tristão (Tristan!!) e Isolda.
A narrativa, que se passa na segunda metade do século 19, também traz duas perspectivas diferentes. A de Tristan e a da jovem Ingrid, por meio de seu diário. Ambas se intercalam e não apenas são pontos de vista de um homem e de uma mulher, como também são diferentes no quesito inocência. Um mostra a história como ela realmente é, o outro mostra os fatos de fora, pelo olhar de alguém que não conhece o amor de Tristan e Pauline.
Outro aspecto muito interessante é a questão da colonização germânica. A história se passa na Colônia de Santa Cruz logo após a chegada dos primeiros imigrantes, entre os quais estão os personagens principais. Em função disso, a autora explorou muito bem a utilização de personagens reais, como o historiador Robert Avé-Lallemant que assim como em “A Valsa da Medusa”, esteve visitando a Colônia de Santa Cruz em meados de 1858. Ela também soube mostrar dentro da narrativa, os problemas que os colonizadores enfrentaram ao chegar por aqui. Dessa forma ela trabalhou como poucos na literatura a história da colonização e de como essa terra foi construída.
Por fim, é necessário destacar o aspecto filosófico da obra. Valesca fez um jogo muito inteligente utilizando de histórias mitológicas e da língua alemã para dar título ao livro. Para quem lê superficialmente a história, o título “A Valsa da Medusa” pode não fazer sentido nenhum. Medusa não é um ser mitológico que transforma em pedra aqueles que olham diretamente em seus olhos? Correto. Mas Medusa é também uma mulher fatal. E nessa história, o amor de Pauline é fatal. É um amor que se desenrola em uma realidade tão dura quanto pedra. Une-se a isso o fato que o sobrenome de Tristan é Waldvogel, que em alemão significa pássaro do mato. Então é como se o pássaro do mato tivesse sido atraído para a Valsa da Medusa. Para a valsa desse amor.
Título: A Valsa da Medusa
Autor: Valesca de Assis
Editora: Edunisc – 3ª edição - 2009
Páginas: 116
Comentários
Postar um comentário