Olá pessoal, tudo bom?
APONTAMENTOS
Essa será a nossa segunda postagem dentro do projeto de leitura "Lendo As Crônicas de Nárnia" e a primeira a falar sobre uma das crônicas já que a primeira postagem foi apenas uma introdução explicando como funcionaria o projeto. Então vamos lá.
A primeira crônica lida - que é também a primeira crônica do livro seguindo a sequência cronológica construída pela editora Martins Fontes na edição que estamos lendo (saiba mais na postagem de introdução ao projeto) - chama-se o 'O sobrinho do Mago'. Ela possui 83 páginas divididas em 15 capítulos, todos com uma média de 6 páginas, e nos conta, basicamente, a história da origem de Nárnia.
Os personagens principais são o Digory e a Polly, um menino e uma menina de idades não citadas - eu diria que algo em torno de 8 anos. Digory acaba de chegar do interior da Inglaterra com sua mãe doente para morar na casa na casa dos tios enquanto seu pai não volta da Índia onde está trabalhando. Digory não gosta dali porque está longe do lugar que considerava como sua casa e porque acha que seus tios, especialmente seu tio André, tem hábitos estranhos - de seu misterioso quarto, sempre trancado à chave, costumam sair sons estranhos.
Digory e Polly são vizinhos e moram em em um lugar onde as casas são como geminados ou duplex, todas bem coladas umas nas outras. Num determinado dia, ambos estão brincando dentro de casa e descobrem a porta de um corredor ou passagem que interliga as casa da vizinhança pelos porões. Curiosos, ambos seguem pela passagem até chegarem a outra porta que acreditam ser de uma casa abandonada existente na rua. Resolvem entrar, e então se descobrem justamente dentro do quarto do tio André.
É nesse momento que o menino descobre que seu tio é um mago (por isso 'O sobrinho do mago'), e que os sons estranhos que Digory costumava ouvir dentro daquele quarto nada mais eram do que experiências mágicas do tio, que acabou de criar alguns anéis mágicos. Segundo a explicação do próprio Sr. André, os anéis amarelos servem para levar a pessoa para outro mundo, já os verdes servem para retornarem ao mundo conhecido.
O homem, bancando o esperto, aproveita a chegada das crianças e resolve que elas devem testar os anéis. Ele os obriga, na verdade. As crianças, sem verem saída e um pouco assustadas acabam guardando dois anéis verdes nos bolsos de seus casacos e colocando em seus dedos dois anéis amarelos. Imediatamente são transportadas para um outro lugar, uma espécie de floresta, cheia de lagos, que serve de passagem para diversos mundos. Cada lago é um mundo diferente.
Digory e Polly, escolhem um dos lagos e resolvem ingressar nele utilizando os anéis ("já que estamos aqui, vamos explorar"). Eles entram no lago e ao mergulharem, chegam em um mundo que inicialmente parece desabitado, com um sol muito antigo que está muito grande, já alaranjado, como se estivesse prestes a se apagar. Eles caminham pelas ruínas do que parece ter sido uma cidade há muito tempo, até que se deparam com um salão cheio de estátuas de pedra em formato de pessoas. Uma dessas estatuas parece ser a de uma rainha, uma mulher muito alta e muito bonita. No meio desse salão há um sino e uma mensagem que desafia os visitantes a tocarem o sino para ver o que acontecerá.
Polly insiste em ir embora, mas Digory, curioso, resolve tocar o sino, mesmo contra a vontade da menina. Ao fazê-lo, Digory desperta a rainha, que logo se mostra uma cruel feiticeira, contando a eles como destruiu o próprio mundo, transformando seus súditos em estátuas de pedra, apenas para que sua irmã não pudesse chegar ao trono.
Arrependido, Digory tenta sair daquele mundo com Polly, mas a feiticeira percebe o que eles estão tentando fazer e quando as crianças tocam os anéis verdes para serem trazidas de volta ao nosso mundo, de volta à Londres, ela acaba sendo transportada junto.
Chegando à Londres, os três se deparam com o mago e tio de Digory esperando ansiosamente. Ele procura fazer uma boa recepção à rainha, fazendo suas cruéis vontades, mas depois de algumas horas, tudo o que conseguem é uma grande confusão pelas ruas de Londres. A rainha, desacostumada com as nossas leis, acaba roubando um comerciante, porque acredita que todos são seus servos e devem satisfazer seus desejos. As crianças então se veem obrigadas a intervir e tentar levar a rainha feiticeira de volta ao seu mundo utilizando os anéis. Porém, ao fazerem isso duas coisas acontecem: primeiro elas levam junto, sem querer, um cocheiro e seu cavalo, e segundo, ao tentar ingressar no mundo da rainha, eles acabam entrando em mundo ainda vazio, que está em um total escuro.
Sem saber o que fazer, sem saber ao certo como voltar ou como sair dali sem a rainha, que não sai de perto deles em nenhum momento, eles esperam para ver o que acontece. Não demora muito para que o grupo comece a ouvir uma música e aos poucos diversas coisas começam a surgir, nascer e crescer. As crianças ainda não sabiam, mas estava sendo criado o mundo de Nárnia. E o cantor que estava dando origem àquele mundo era o leão Aslam, o Rei de Nárnia.
Construído o mundo, a feiticeira foge para terras longínquas e Aslam pede que Digory, para compensar o mal que fez àquele lugar levando a feiticeira até ele, busque uma maçã de uma macieira muito distante, nas terras ao norte. Antes de o menino partir Aslam alerta que quem come daquele fruto vive para sempre, mas que aquele que pega o fruto não pode utilizá-lo para si, apenas para ajudar outra pessoa.
Assim Digory parte - juntamente com o cavalo trazido de Londres, que agora é um cavalo alado, porque Aslam lhe deu asas - em direção ao local onde essa macieira está. Depois de alguns dias viajando ele a encontra e colhe um fruto. Antes de voltar para Aslam, porém, o menino ainda encontra com a feiticeira que também esteve viajando em direção ao norte, e que o tenta a comer um dos frutos, dizendo que ele poderia, assim, viver eternamente.
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A capa da edição avulsa dessa crônica mostra justamente Digory e Polly montados no cavalo alado, sobrevoando a Nárnia recém criada - Créditos: Wmf Martins Fontes |
Digory resiste, se afasta da feiticeira e leva o fruto até Aslam, que o planta, gerando assim uma nova árvore sagrada. Digory então pergunta a Aslam se ele não poderia levar uma dessas maçãs para curar sua mãe. Aslam concorda, avisando apenas que no mundo dos homens (que o leão chama de Filhos de Adão e Filhos de Eva), a maçã não trará a vida eterna, mas apenas a cura. Satisfeito, Digory volta ao seu mundo, juntamente com Polly e com seu tio André. O cocheiro, agora transformado em Rei de Nárnia fica no novo mundo juntamente com sua mulher que é levada a Nárnia a pedido dele e transformada em Rainha.
Chegando a Londres, Digory dá a maçã a sua mãe que é curada de sua doença. No dia seguinte ele e Polly enterram no quintal da casa de Digory o miolo da maça juntamente com os anéis feitos pelo tio André. Não demora muito para que as sementes da maçã mágica germinem e se transformem em uma macieira. Nessa parte o livro deixa de ser tão detalhado e relata apenas que que anos depois essa macieira que cresceu do miolo da maça de Nárnia é derrubada por uma forte ventania e que com sua madeira, um armário foi construído.
Quem já assistiu aos filmes feitos sobre As Crônicas de Nárnia pode estar imaginando que esse armário será aquele mesmo armário da segunda crônica, 'O leão, a feiticeira e o guarda-roupa'. E estará certo quem assim pensar, porque é mesmo.
"Mas dentro dela, na sua própria seiva, a árvore (por assim dizer) nunca se esqueceu da árvore de Nárnia à qual pertencera. Às vezes balançava-se misteriosamente, quando não havia vento soprando. Creio que nesses instantes sopravam altos ventos em Nárnia.
De qualquer forma, viu-se mais tarde que a árvore guardava magia em sua madeira. Pois quando Digory era um homem de meia-idade (um famoso professor, dado a grandes viagens), já proprietário da mansão dos Ketterley no campo, uma grande tempestade derrubou a árvore. Como não lhe agradasse a ideia de cortá-la e aproveitar a lenha na lareira, o professor utilizou parte da madeira para fazer um guarda-roupa, que foi levado para a casa de campo.
Apesar de ele próprio não ter descoberto as propriedades mágicas do guarda-roupa, outra pessoa o fez. Foi esse o começo de todas as idas e vindas entre Nárnia e o nosso mundo, que estão contadas em outros livros".
Esses são alguns dos últimos parágrafos da primeira crônica, e quem já leu a crônica 'O leão, a feiticeira e o guarda-roupa' ou assistiu ao filme, sabe que foi uma das irmãs da história que acaba descobrindo, sem querer, que o guarda roupa é uma passagem para outro mundo. Mas isso já é história para a segunda postagem do projeto de leitura.
APONTAMENTOS
É importante observar que há vários elementos bíblicos dentro dessa primeira crônica, e acredito, dentro das demais. A Gênese da Bíblia, a história da construção do mundo, o aparecimento de uma maçã na história - que assim como na bíblia tem um poder transformador -, e a forma como a feiticeira tenta o menino Digory a experimentar uma das maças, é bastante semelhante à história bíblica e mesmo os mais leigos no quesito religião vão perceber semelhanças.
Ainda nesse sentido bíblico é preciso ressaltar que Lewis faz questão de mostrar que Digory se saiu bem na história e conseguiu o que queria - salvar sua mãe - apenas porque foi forte o suficiente para resistir à tentação de comer a maça - diferentemente de Adão e Eva na história cristã.
E por falar no primeiro casal bíblico, durante toda a história, as personagens humanas do nosso mundo são chamadas pelas personagens de outros mundos de Filhos de Adão (para os homens e meninos) e Filhas de Eva (para mulheres e meninas). Essa é uma das mais claras alusões a bíblia cristã. Na minha opinião, porém, não foi uma boa forma de relacionar as pessoas à história de Adão e Eva, afinal, como os seres de outros mundo conhecem a história da bíblia? Meio estranho, né?! Mas é uma história fantástica. É preciso aceitar esse elementos.
Essas alusões todas à bíblia e à religião não são de surpreender quando se sabe que Lewis foi, de fato, um apologista cristão. Professor universitário, boa parte de de seus trabalhos envolveu a questão religiosa, como os textos O Problema do Sofrimento (1940), Milagres (1947) e Cristianismo Puro e Simples (1952).
As Crônicas de Nárnia (1950-56), no entanto, foram suas obras mais famosas. Porém antes de escrevê-las e publicá-las, Lewis já havia feito publicações de ficção, inclusive com temáticas fantásticas. Uma delas foi a obra 'Cartas de um diabo ao seu aprendiz', publicada em 1942 e outra delas foi a Trilogia Espacial (ou Trilogia Cósmica), lançada entre 1938 e 1945.
Essa última história é composta pelo volumes 'Além do Planeta Silencioso', 'Perelandra' e "Aquela Força Medonha'. Todos eles possuem, inclusive, tradução para o português. Todos eles são infanto-juvenis, assim como As Crônicas de Nárnia, mas são bastante filosóficos, possuindo também relações fortes com a temática cristã.
Assim a gente encerra por aqui a primeira postagem do projeto "Lendo As Crônicas de Nárnia". A próxima - referente à segunda crônica, 'O leão, a feiticeira e o guarda-roupa' - deve acontecer na próxima sexta-feira, 19 de janeiro.
Até lá.
SOBRE A CRÔNICA
Titulo: O Sobrinho do Mago (As Crônicas de Nárnia)
Autor: C. S. Lewis
Gênero: Fantasia/ Ficção
Editora: Martins Fontes
Páginas: 83
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