Logo que o longa-metragem “O filme da minha vida” foi lançado descobri que ele era baseado em um livro do chileno Antônio Skármeta – “Um pai de cinema” - e fiquei curiosa em relação ao volume, especialmente porque o próprio Skármeta afirmou em uma de suas vindas à Santa Cruz, que a cidade possuía um clima muito semelhante ao da história escrita por ele. Entretanto os dias passaram e esqueci de procurar o volume para lê-lo.
Há algumas semanas, porém, tive a oportunidade de ver o longa-metragem (dirigido por Selton Mello) no cinema, e então foi quase que avassalador. Gostei tanto do enredo que não encontrei alternativa senão buscar a história original - sim, porque spoilers nunca me intimidam e filmes baseados em livros só me fazem querer ler ainda mais. E qual não foi a minha surpresa ao iniciar a leitura e perceber que as semelhanças são muito, muito grandes?
Um pai de cinema é uma novela, e portanto, o volume não é grande e a leitura não é difícil. Os capítulos são curtinhos. Há bastante diálogo. A história do livro, assim como a do filme foi contada em primeira pessoa, ou seja, por um jovem que ao voltar para sua cidade de origem depois de passar um tempo estudando na capital, vê seu pai embarcar no mesmo trem em que ele chegou e sumir sem dar notícias, dizendo apenas que estava voltando à França, de onde é natural. Nos deparamos então com um rapaz que busca respostas, que precisa lidar com o amor, a nova profissão, a falta do pai e os cuidados com a mãe. Um jovem que busca uma saída para seus problemas.
Selton teve algumas liberdades no filme, é claro. Os nomes de alguns personagens são diferentes. O nome da cidade, que no livro se chama Contulmo (no interior do Chile) é outro no filme, mas o enredo é muito semelhante, os diálogos o são também, as cenas apresentadas no filme foram feitas com muita fidelidade às descrições do autor.
O mais interessante de tudo, porém, são as coisas contidas nas entrelinhas de ambas as narrativas. Há muita coisa dita sem ser falada no texto e Selton conseguiu manter isso no filme. A forma como ambas foram construídas também é muito importante. Nada está ali por acaso. Acontecimentos do início se mostram fundamentais para o desfecho.
O livro não é longo, nem denso, e por isso poderia se pensar que fica na superficialidade dos fatos, mas não. Skármeta nos mostra que assim como há textos longos muito bons, há também aqueles mais breves, mas que tocam igualmente fundo a alma humana. Nos mostra que bons escritores não precisam de muito.
Vale destacar ainda que a Editora Record, que publica os livros de Skármeta no Brasil, lançou há cerca de um mês novas edições para Um pai de cinema – com a imagem do filme e uma apresentação de Selton Mello - e também para o volume “O carteiro e o poeta”, um dos livros de maior sucesso de Skármeta. Ambos podem ser adquiridos na Livraria e Cafeteria Iluminura ou no site da Editora Record. Fica aí então, uma super dica. Leiam o livro e assistam ao filme. Vale a pena.
Título: Um pai de cinema (Un padre de película)
Autor: Antonio Skármeta
Editora: Record
Lançamento: 2017
Páginas: 112
Formato: 14 x 21
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