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Amor e bravura

Nessa semana quero trazer como dica de leitura um livro que eu mesma li bem recentemente, o Travessia da Leticia Wierzchowski, lançado na metade de 2017. Ele é o terceiro livro da série que iniciou com o lançamento do volume A Casa das Sete Mulheres e nesse volume, Leticia conta a história do casal Anita e Giuseppe Garibaldi. Preciso ressaltar, antes de começar, que pensei em falar dele hoje, pela proximidade do Enart, realizado no fim de semana que passou, porque o casal e seus feitos são frequentemente retratados nas apresentações. 

A história contada no livro não é nenhuma grande novidade, porque faz parte da história do Rio Grande do Sul, do Uruguai e da Itália. O enredo inicia com a chegada de Giuseppe ao Rio Grande do Sul, vivendo os fatos que culminaram no encontro com Anita em Laguna no Litoral Sul de Santa Catarina. Depois a história segue pelo Uruguai e pela Itália até a morte de Anita. Tudo isso acontece em um intervalo de tempo de 10 anos. 



Mas se a história não é nova, a narrativa é bastante peculiar. A história possui três narradores diferentes que se intercalam. Há os trechos contados em terceira pessoa que mostram a história principalmente da perspectiva de Garibaldi, há os trechos narrados pela própria Anita, em primeira pessoa, esses trechos são narrados após a morte da personagem, como se o espírito dela estivesse falando, e há ainda os trechos narrados pela deusa grega Nix, que conta a história buscando mostrar que os deuses amavam Giuseppe e Anita por sua bravura. 

A história também se passa em dois tempos diferentes, ou seja, no presente de 1850 cerca de um ano após a morte de Anita, e também no passado de Garibaldi, a partir de 1839 quando ele chega ao Brasil. Mas apesar de o leitor ir e voltar no tempo, os fatos vividos pelo casal são contados em uma ordem cronológica. É uma narrativa muito tranquila de acompanhar, e a troca de pontos de vista a torna ainda mais interessante. 

Essa troca aliás, no que se refere à Anita, é muito bacana, porque é como se, pela primeira vez a mulher Anita tivesse a oportunidade de mostrar a história de seu ponto de vista. Por ser mulher, mesmo que fosse uma grande guerreira, ninguém teve o cuidado de registrar seus passos, como foi feito com Giusepe. Mas nesse livro é diferente. Diz Anita: “Eu agora estou no Cosmos, ele sou eu e eu sou ele... Agora eu tenho voz na chuva, eu tenho voz no vento... Eu grito com os trovões e ceifo com os raios e derramo-me com o mar. Ouçam no vento a minha história”. 

O livro, é claro, é um romance, e tem muito de fictício em si, mas a construção desse trabalho exigiu muita pesquisa de Letícia Wierzchowski, como ela mesma contou durante sua participação da 30ª Feira do Livro de Santa Cruz do Sul. Todo o enredo foi construído com base no que está registrado na história. 

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