Eu sempre acho difícil fazer resenhas de livros ou autores que gosto muito, porque é muito mais difícil manter um distanciamento e imparcialidade. No caso da escritora britânica Rosamunde Pilcher, eu acho que é mais fácil eu já avisar logo de cara que eu não conseguirei esse tom crítico. Eu gosto muito dela. Muito mesmo.
Eu conheci a autora ainda no Ensino Médio quando retirei um livro dela na biblioteca da escola. "O fim do verão" era o título da obra. E eu me encantei com a narrativa, com as personagens, com estilo da autora. Devorei o livro de 191 páginas em poucas horas e logo fui atrás de outros volumes.
Acontece que na cidade onde eu morava na época, no litoral do Rio Grande do Sul, não havia livrarias nem outras grandes bibliotecas. Na época eu também ainda não tinha o habito de comprar livros pela internet. Então não encontrei mais nada da autora pra ler durante muito tempo. Me consolei, aceitei e depois de um tempo, esqueci. Mas as coisas mudaram quando voltei para minha cidade natal, Santa Cruz do Sul e encontrei uma coleção de livros dela na biblioteca da universidade onde estudei.
Desde então eu procuro ler pelo menos um volume dela por ano. E ela tem histórias de variados tamanhos. A maior parte de seus livros possui algo em torno de 150 a 250 páginas. Alguns, porém, têm mais de 700, como é o caso do livro escolhido para o mês de novembro para o desafio de 12 livros para 2018, e como é o caso também de sua obra-prima "Os Catadores de Conchas". Alguns outros reúnem apenas contos.
O mais recente livro dela que eu li, ainda no fim de 2017, foi o "A Casa Vazia". Assim como as demais histórias dela que eu li até então, o volume tem um enredo linear, muito leve e fácil de acompanhar. Quem não gosta dela poderia dizer até que a autora segue um certo padrão em suas histórias, no sentido de serem muito simples, envolvendo famílias, conflitos, dificuldades a serem enfrentadas e superadas e uma resolução, normalmente feliz. E pode ser que seja assim mesmo. Mas quer saber? Eu adoro essas histórias dela porque elas me fazem bem.
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Capa e contracapa de "A Casa Vazia", com fotografia da autora |
Sempre digo que, se não servirem pra mais nada, me deixaram com o coração cheio de esperança, amor, me deixaram feliz. De forma geral, são histórias contadas do ponto de vista feminino e acho que a forma como essas personagens veem o mundo é muito bacana. Algumas são mais independentes, beirando um feminismo até, são fortes. Outras são mais submetidas aos caprichos da vida, mulheres que aceitam seu destino sem questionar. Outras ainda são um tanto quanto egoístas, têm atitudes que poderiam ser questionadas. Todas, porém, mostram diferentes formas de ver a vida, representam mulheres de carne e osso. E mostram que cada uma delas merece a felicidade.
Em "A Casa Vazia" não é diferente. O volume lançado em 2002 conta a história de Virgínia, uma mulher que está tirando um tempo para se reorganizar na vida, organizar os pensamentos. A autora vai nos dando as informações bem aos poucos de forma que, durante boa parte da história, sabe-se que algo aconteceu na vida de Virgínia, mas não se sabe ao certo o quê.
Virginia está na Cornualha, região litorânea da Inglaterra, hospedada na casa de uma amiga e também busca uma forma de trazer pra perto de si os filhos - Cara e Nicholas - deixados com a avó. E é assim, sem saber o que fazer do futuro, que ela acaba se reencontrando com o passado, revivendo momentos de 10 anos antes, quando outro período de férias foi passado naquela localidade.
Não vou falar muito mais sobre o enredo porque eu poderia acabar contando demais, revelando situações que são apresentados à conta-gotas na história. Mas posso dizer ainda que Virgínia passa por um processo de autodescobrimento e de metamorfose. Ela se transforma, finalmente, na mãe e na mulher que ela é de verdade. E acho que todas as mulheres passam, de uma forma ou de outra por isso em algum momento da vida. E isso só torna a leitura ainda mais interessante.
Agora, quem estiver procurando uma leitura feminista - por ser uma escritora mulher e ter uma personagem mulher - poderá se decepcionar um pouco com a história, porque esse não é o foco da autora. Mas talvez dependa do ponto de vista e da forma como se enxerga o feminismo.
Agora, quem estiver procurando uma leitura feminista - por ser uma escritora mulher e ter uma personagem mulher - poderá se decepcionar um pouco com a história, porque esse não é o foco da autora. Mas talvez dependa do ponto de vista e da forma como se enxerga o feminismo.
A relação de cada um com a autora também é uma questão de gosto. Eu sempre tenho em mente que o mundo que Rosamunde coloca nas páginas deve ter muito de seu próprio mundo. Quero dizer, ela é uma senhora escocesa de certa idade já e viu muitas coisas na vida, viu um mundo em processo de mudança e já mudado, viu um mundo muito diferente daquele que eu vi e estou vendo daqui de onde moro. E são essas perspectivas diferentes que me atraem. Muito. Sempre.
Ah, e sobre o título, "A Casa Vazia", eu sei que pode parecer estranho pra quem leu o que eu escrevi até aqui, mas quem ler o livro vai perceber que há várias referências. A primeira e mais óbvia é o fato de que as mudanças na vida de Virgínia começam quando ela encontra uma casa velha e praticamente vazia que ela decide alugar por um período. Mas também pode-se pensar na própria personagem como uma casa vazia que vai se preenchendo de si mesma aos poucos. Ou na vida que ela levava antes, em outra localidade, em outra casa, e que apesar de ricamente mobiliada, era vazia de vida e de sentimentos.
Sugiro muito a leitura de Rosamunde Pilcher.
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