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Lendo 'As Crônicas de Nárnia' #2 - O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa

Olá pessoal,

Continuando o nosso projeto de leitura a segunda Crônica de Nárnia - em ordem cronológica - é a 'O Leão, a Feiticeira, e o Guarda-Roupa'. Ela possui 83 páginas e é dividida em 17 capítulos. Seu enredo é um dos mais conhecidos, porque foi a primeira crônica a ser adaptada para o cinema, e foi também a que mais sucesso fez nas telonas. 

Capa do filme da Disney, lançado em 2005 - Créditos: Divulgação/Disney

A história se passa em um período de guerra, quando quatro jovens irmãos, com idades que variam entre 6 e 13 anos, eu diria - Lucia, Edmundo, Susana e Pedro - são levadas para passar uma temporada na casa de campo de um professor universitário - ninguém mais, ninguém menos do que o Digory da primeira história, porém, vários anos depois. 

Chegando na grande casa, as crianças se veem obrigadas a passar um bom tempo de seus dias dentro da residência em função do clima frio e da constante neblina, então elas começam a explorar os diversos quartos e espaços existentes, até que, certo dia, enquanto brincavam de esconde-esconde, a mais nova das irmãs acaba encontrando uma passagem secreta para um mundo estranho e desconhecido. 

Durante a brincadeira, a menina acaba entrando em um armário - aquele feito com a macieira de Nárnia - e, atravessando os casacos que estão guardados dentro dele, ela chegou a uma densa floresta, no meio da qual está um único poste de luz. A menina ainda não sabe, mas está em Nárnia. Mas a Nárnia que Lucia encontra, já não é a Nárnia que Digory deixou. Ali várias centenas de anos se passaram e muitas coisas mudaram. 

Não demora muito, porém, para que ela encontre um fauno, o Sr. Tumnus, e se torna amiga dele, indo tomar chá em sua casa. Por meio desse ser, que é metade homem, metade bode, ela descobre que a rainha de Nárnia é uma feiticeira, que com sua mágica fez de Nárnia uma terra de inverno eterno, sempre coberta de gelo, onde o Natal nunca acontece. Ela descobre que além de muito má, a feiticeira também está sempre atenta a chegada de humanos à Nárnia e que não gosta deles. Tumnus explica que Lucia deve voltar para seu mundo por uma questão de segurança, tanto da menina quanto dos seres que vivem em Nárnia, pois se a rainha descobre que algum morador de Nárnia teve contato com humanos e não os levou a ela, ela com certeza terá uma punição terrível para esse ser.

Lúcia e o Sr. Tumnus no filme - Créditos: Reprodução

Lúcia então volta ao caminho até encontrar novamente os casacos e a porta do guarda-roupa e logo descobre que a passagem do tempo é diferente entre os dois mundos. Em Nárnia, ela ficou o tempo equivalente a uma tarde, mas no nosso mundo, nem mesmo um segundo havia passado. Seus irmãos ainda brincavam de esconde-esconde, e quando ela contou tudo o que havia vivido, nenhum deles acredita nela. 

A menina fica chateada durante alguns dias, especialmente porque quando tenta mostrar a entrada para Nárnia, abrindo o guarda-roupa, o caminho não está lá e todos eles veem apenas um fundo de madeira, como se aquele armário fosse um armário qualquer. Não demora muio porém, para que outro dos irmãos acabe entrando em Nárnia. Curioso, Edmundo entra no armário alguns dias depois e se depara com a passagem que sua irmã descreveu. Quase sem acreditar, ele vai até o poste.

Chegando lá, porém, ele não encontra o bom e querido Sr. Tumnus, mas ouve o som de uma carruagem e logo em seguida se depara com ninguém menos do que a própria feiticeira. Vendo que Edmundo era um menino Filho de Adão, ela começa a conversar com ele. Sem saber ao certo quem era aquela mulher que se dizia rainha, e sem saber do interesse dela em destruir humanos, Edmundo acaba caindo em sua conversa e lhe contando diversas coisas, como por exemplo, o fato de ele ter outros três irmãos, duas meninas e um menino. 

Enquanto falava isso, a feiticeira também deu para Edmundo comer uma espécie de manjar, que ele adorou, como se nunca houvesse comido nada tão bom. Mais tarde, descobre-se que essa comida estava enfeitiçada, de forma que Edmundo faria qualquer coisa, no futuro, para poder comer outra vez. A Feiticeira então diz que Edmundo deve voltar para o mundo dos homens e deve trazer com ele seus irmãos. E levá-los diretamente para ela.

Chegando ao mundo dos homens, porém, Edmundo finge que nada aconteceu ao entrar no armário, deixando Lúcia ainda mais chateada. Porém, pouco dias depois desses acontecimentos, durante uma tarde chuvosa, as crianças se veem obrigadas a entrar, todas elas dentro do armário -  para se esconder da governanta da casa - e então descobrem a passagem para Nárnia. Descobrem também que Lúcia falava a verdade, e que Edmundo já havia estado ali, mas mentira. 

Capa da edição avulsa da crônica escrita por C. S. Lewis - Créditos Wmf Martins Fontes

Chegando à Nárnia, as crianças procuram por Tmnus guiadas por Lúcia, porém se deparam com a casa dele arrobada e destruída. Eles concluem que o fauno foi pego pela feiticeira por não ter entregado Lúcia. Logo em seguida, elea fazem amizade com um pequeno Castor que lhes dá abrigo do frio e os esconde da feiticeira má, mesmo correndo o risco de ser castigado por isso.

Durante um jantar na casa desse Castor, eles ficando sabendo mais sobre a feiticeira e suas maldades. Edmundo, que já havia conversado com ela anteriormente, custa a acreditar que ela seja má - afinal ela lhe deu de comer - e desconfia que os maus, sejam, na verdade, aqueles que estão contra ela. Conversa vai, conversa vem, o Sr. Castor acaba contando às crianças que tudo deverá mudar em breve, porque Aslam, o Leão, verdadeiro rei de Nárnia está retornando. 

Em sua distração durante a conversa nenhum dos irmãos se dá conta de que, de repente, Edmundo some. Eles só dão falta dele quando já muito tarde, e percebem que ele só pode ter ido até a feiticeira, a quem ele defendia. Então, eles decidem que não há outra escolha senão fugir da casa dos castores e ir ao encontro de Aslam. Enquanto isso, Edmundo chega ao castelo de feiticeira e avisa ela sobre a chegada de seus irmãos à Nárnia. Ele não demora, a perceber, porém, que foi um terrível erro, pois além de não ganhar o tão esperado manjar, ela manda que lhe amarrem e o arrasta junto, sempre maltratando-o, em sua perseguição aos Filhos de Adão e Filhos de Eva.

Por outro lado, os outros três irmãos, apesar de preocupados em fugir da feiticeira, não deixam de perceber uma presença mais próxima do leão, porque no caminho que eles percorrem, aos poucos o frio vai diminuindo e o gelo derretendo, como se fosse primavera. Eles concluem que os poderes da rainha má já estão diminuindo. Depois de um percurso longo elas finalmente chegam em um local chamado Mesa de Pedra onde encontram Aslam. 

No inicio ele parece um pouco assustador, porém, logo se mostra confiável. Ele lhes dá conselhos, avisando que eles devem se preparar para uma perigosa batalha e que devem perdoar seu irmão Edmundo, porque ele estava enfeitiçado. Logo as palavras de Aslam sobre a batalha se mostram verdadeiras e uma guerra entre os bons animais e diversos seres do mal - como vampiros, lobos e outras criaturas -, convocados pela feiticeira, inicia. Há uma série de desdobramentos. Em um dos momentos da batalha, as meninas descobrem, inclusive, que para que Edmundo não fosse morto pela feiticeira - por ser um traidor ela possui esse direito* - Aslam se entrega a ela e deixa que ela e todos os demais seres monstruosos o torturem. Por fim ele crava um espécie de punhal no peito de Aslam acreditando assim que o matou. 

O leão, porém, acorda algum tempo depois e volta para a batalha. Ele inclusive vai até o castelo da feiticeira, onde estavam centenas de seres transformados por ela em pedra, e os desperta novamente. Em seguida volta para o campo de batalha, surpreendendo a feiticeira e matando-a. Quando isso acontece, os monstros por ela convocados fogem e a batalha termina. 

Dessa forma, Pedro, Susana, Edmundo (já perdoado) e Lúcia são coroados reis de Nárnia. Nessa altura da história eles já não lembram que pertencem a outro mundo porque há uma magia em Nárnia que faz isso acontecer. Eles então governam juntos, por muito anos, até que, certo dia, ao participar de uma caçada ao veado branco - que já havia sido citado na primeira crônica como um ser que realiza os desejos daqueles que o capturam - os quatro soberanos se deparam com o poste de luz e percebem, mesmo sem saber porque, que já estiveram ali em algum momento de suas vidas. Eles continuam seguindo o veado branco, e então se deparam com os velhos casacos e a porta do guarda-roupa por onde entraram.

Assim eles atravessam o portal e chegam novamente ao seu mundo, descobrindo que ali, apenas alguns instantes se passaram**. Que eles continuam sendo os jovens irmãos e que a governanta ainda está passando pelo corredor do quarto onde o armário está guardado. Imediatamente eles procuram pelo dono da casa, o Sr. Digory e lhe contam a aventura vivida, achando que ele não acreditaria neles. Ele acredita, porém. E os aconselha a não tentar entrar pelo armário novamente, porque "Nárnia se mostrará quando for pra isso acontecer". E assim é encerrada a história. 

* Não há uma grande explicação para isso. Acredito alguma Crônica posterior possa abordar essa questão. Porém, tanto Aslam quanto a Feiticeira falam, em sua discussão, de uma Magia Profunda, muito forte que daria a ela o direito sobre a vida de Edmundo, por ele ter traído os irmãos. Aparentemente, se alguém se sacrifica no lugar desse traidor, o traidor não precisa ser morto. 

** Também não há - até agora - uma explicação sobre a diferença de tempo entre os mundos, e essa é uma das grandes curiosidades que tenho. Fica claro que a passagem de tempo é diferente, mas o quão diferente, não sabemos. Fazendo algumas leituras na internet eu descobri apenas que, de fato, não há como fazer uma comparação, pois "às vezes, um ano na Terra pode significar mais de mil anos em Nárnia, mas por outro lado, um ano para nós pode significar três no fantástico país" (Wikipédia). 

O FILME

O filme da crônica, lançado pela Disney em 2005 é bastante fiel ao texto. Por ser um longa metragem, é natural que algumas pequenas coisas tenham sido alteradas ou acrescentadas, até porque um filme, diferentemente de um livro, precisa de certas imagens para que sejam explicadas certas coisas.

Notei, por exemplo, que o início do filme é mais trabalhado que o início da crônica. Há uma cena de batalha que ilustra o período de guerra em que a história se passa, bem como a necessidade das crianças se mudarem para o interior, e que não existe no texto. Porém, essa não é uma cena que atrapalha, ao contrário. Acho que ela incrementa a história. 

Notei também que no filme há uma pequena explicação sobre a Magia Profunda. Há uma cena em que o leão Aslam fala às meninas sobre esse poder, explicando que foi ele o construtor de Nárnia. Não fica muito claro, porém, nem mesmo no filme, o que esse poder tem a ver com o fato de um traidor poder ser morto. 

No filme, possivelmente por ser uma coisa mais comercial (é Disney, não esqueçamos), em nenhum momento são utilizados os termos Filho de Adão e de Eva, o que dá uma diminuída no tom religioso do filme em relação ao livro. (Eu, particularmente não me importei com essa alteração. Talvez a intenção de Lewis fosse doutrinar um pouquinho as crianças que lessem suas histórias, mas eu, particularmente acho bem chatos esses termos).

Outra diferença do filme para o livro é que as crianças procuram o professor antes no filme, para lhe falar sobre Nárnia. Isso acontece logo depois que Edmundo também entra no mundo estranho através do armário. Por fim, outra questão que notei, foi que no filme, as crianças não apenas lembram do seu mundo de origem, como também sentem saudade dele e se preocupam com o que pode estar acontecendo nele. 

Nenhuma dessas alterações, porém, interfere na história como um todo. O enredo permanece o mesmo no filme. Ele é, inclusive, bastante satisfatório na função de colocar na tela as imagens que os leitores podem ter criado em suas mentes. 

O QUE EU NÃO SABIA

O que eu não sabia, e talvez alguns, como eu, não saibam, é que além da versão para cinema da Disney, a crônica "O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa", também têm uma versão mais antiga - de 1979 - em animação, que teria sido produzida pela Fox. Eu a encontrei por acaso no Youtube e me pareceu - não assisti toda ela, apenas alguns trechos - uma versão muito fiel da história do livro. A história está disponível aqui.

Além disso, entre 1988 e 1990, a BBC também manteve no ar uma série baseada em quatro crônicas de C.S. Lewis: O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa, Príncipe Caspian, A Viagem do Peregrino da Alvorada e A Cadeira de Prata.  Não sei todas elas estão disponíveis no Youtube, porém, a primeira temporada está. É possível assisti-la aqui.

Os quatro irmãos na série da BBC lançada em 1988 - Créditos: Reprodução

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