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Lendo 'As Crônicas de Nárnia' #7 - A última batalha

Olá gente, tudo bom?

Nem acredito ainda, mas sim, chegamos a última das sete Crônicas de Nárnia. 
Isso é maravilhoso, porque significa mais uma história lida.  Mas também é um pouco triste, porque nos acostumamos com a leitura e com alguns personagens. 

Já adianto que antes de começar um novo projeto de leitura, vou fazer um post resenhando o volume das Crônicas de Nárnia em sua totalidade, falando de uma forma mais geral sobre as histórias e resumindo tudo o que foi lido nas últimas semanas. Esse post deverá sair na próxima sexta-feira, dia 16 de março. 

No dia 23 então, iniciaremos outro projeto. E eu acho que já sei qual é, mas ainda não vou contar, não! 

Bom, vamos à  história de "A última batalha"

Sétima e última das Crônicas de Nárnia - Créditos: Divulgação
A sétima e última das crônicas escritas por C. S. Lewis inicia já em Nárnia, diferentemente da maioria das outras crônicas - exceto o Cavalo e Seus Menino. Os personagens desse começo são um jumento chamado Confuso e um macaco chamado Manhoso. Eles estão juntos na beira de um lago, nas proximidades de uma cachoeira quando de repente eles veem boiando na água uma pele de leão. Eles não sabem dizer de onde surgiu aquilo, mas o macaco convence o jumento a buscar a pele e ele o faz.

Depois de analisar a pele, que está muito inteira, o macaco tem a ideia de costurar aquela pele e vesti-la no jumento a fim de pregar uma peça em outros animais, fingindo que o jumento é Aslam, o Grande Leão. O jumento não gosta muito da ideia, mas novamente acaba sendo convencido pelo macaco.

É preciso dizer que o jumento, pobrezinho, é um ser bastante humilde que pensa não ser muito esperto e que, ao contrário dele, o macaco é um ser bastante malandro. Desde o primeiro diálogo entre os dois animais, é possível perceber sua lábia e seu vitimismo. E é exatamente dessa forma que ele possui controle sobre o jumento.

O macaco e o jumento vestido de leão - Créditos Luana Ciecelski

Mas esse é apenas o prefácio da história, digamos assim. Na sequência, a história passa para o Castelo de Cair Paravel onde reina o Rei Tirian - tataraneto de Rilian. Acompanhamos então o exato momento em que ele recebe a informação de que Aslam voltou à Nárnia depois de muito tempo.

Feliz com o a boa nova ele resolve ir ao encontro do Grande Leão na companhia de seu bom amigo, o unicórnio Precioso. Eles seguem até a região do Ermo do Lampião onde, segundo as informações, o Aslam tem sido visto, mas ao chegar lá o que os espera não é nada agradável.

Eles logo descobrem que há um macaco dando ordens e escravizando animais de todas as espécies. Esse macaco - que é ninguém menos que Manhoso - diz ser o intermediador entre Aslam e os narnianos. Ele dá as mais perversas ordens e nome do Leão e está, inclusive, destruindo a floresta do Ermo do Lampião, vendendo a madeira para os governantes de Tashbaan.

Tirian não demora para desconfiar daquilo tudo. As histórias que ouviu sobre Aslam davam conta de sua bondade e não do ser cruel e vingativo que agora está castigando os narnianos por seus pecados. Ao expressar esse sentimento, porém, ele logo é detido e seu amigo Precioso levado para um estábulo afastado.

O Rei de Nárnia fica sem saber o que fazer e, num momento de lucidez, lembra-se das velhas histórias sobre Filhos de Adão e de Eva que vinham à Nárnia socorrer seus habitantes quando mais necessário. Ele faz então uma espécie de oração pedindo a ajuda deles, e qual é sua surpresa quando vê a sua frente uma espécie de imagem holográfica dos antigos reis e rainhas, como por exemplo, Pedro. E o melhor: eles também o veem.

O contato é rápido, mas basta para que os antigos reis percebam a necessidade de Nárnia. Passados alguns minutos então, Eustáquio e Jill se materializam na frente de Tirian. Eles soltam o rei enquanto contam como foi a vinda para Nárnia - para eles, uma semana havia passado já e eles estavam em um trem, buscando uma forma de ir até Nárnia, quando sentiram um grande solavanco e então se materializaram ali.

A ideia inicial deles é se afastar daquele lugar para pensar em uma saída, mas eles precisam buscar o unicórnio Precioso primeiro. Quando se aproximam do estábulo onde ele está amarrado, acabam descobrindo que não existe leão nenhum, e que o tal Aslam não passa de um jumento vestido com uma pele - e que é o pobre Confuso. O animal explica que não sabe o que está acontecendo e que o macaco o trata muito mal, não o deixa sair do estábulo e nem mesmo lhe dá água, e por fim, acaba concordando em partir com as crianças e com Tirian.

O jumento vestido de leão seguiu com as crianças, o Rei Tirian e Precioso - Créditos: Luana Ciecelski

Eles vão até uma antiga torre onde se abrigam para passar a noite e pensar em um plano. Quando estão lá, porém, eles se deparam com um ser estranho, fedido e assustador, que se parece muito o deus Tash, de Tashbaan. Eles também descobrem através de um pássaro que os encontra, que os narnianos de Cair Paravel foram todos mortos pelo exército desse reino vizinho. Eles não veem saída então, a não ser voltar ao Ermo do Lampião o e mostrar aos animais de lá o jumento Confuso. 

No meio do caminho porém, algo mostra a eles que isso pode não dar certo. Eles se encontram com um grupo de anões que revoltados, se recusam a acreditar em qualquer coisa dita pelas crianças ou por Tirian. Eles estão cansados de serem enganados e agora não mais vão acreditar em Aslam, seja ele de verdade ou de mentira. Diante disso, o grupo começa a se preocupar. E se a enganação do macaco causar a descrença de todos?

Como não há o que fazer, eles seguem em frente. Mas quando chegam ao local onde está vivendo Manhoso eles percebem que o macaco é mais astuto do que imaginavam. Eles inventou uma nova história sobre o leão. Disse que alguém fantasiou um jumento de leão e está andando por ai, e que por isso, o verdadeiro Aslam não irá mais aparecer para eles, ele estava muito irado com os narnianos.

Segue-se então uma confusão em que Manhoso chega a convidar alguns seres para entrarem no estábulo e conferirem com seus próprios olhos a ira de Aslam. Quando ele tenta obrigar um pobre animal apavorado a entrar no casebre de madeira, Tirian não resiste e resolve atacar o macaco.

Segue-se então uma batalha. A última que vai acontecer em Nárnia (A última batalha). O macaco acaba sendo atirado dentro do estábulo e não sai mais de lá. Mas o exército de Tashbaan, que estava apoiando Manhoso mantém a luta acontecendo.

Muitas coisas horríveis acontecem. Muitos narnianos acabam morrendo. E por fim, o próprio Tirian depois de resistir tanto quanto pode, acaba sendo empurrado para dentro do estábulo. Ele está com medo, mas resolve abrir os olhos e então, ao invés da escuridão que espera encontrar no lugar, ele vê um lugar lindo, um céu azul, um gramado verde.

Nesse lugar ele acaba reencontrando aqueles que estavam com ele na batalha. Eustáquio, Jill, Confuso e Precioso estão ali. Eles observam o lugar tentando entender o que está acontecendo. Então eles percebem que Pedro, Lucia, Edmundo, o Sr. Digory e a Sra. Polly também estão ali. A questão que fica no ar é: como? Aslam disse que eles não voltariam mais.

O Rei Tirian encontra os antigos reis de Nárnia - Créditos Luana Ciecelski

Pedro então conta que o solavanco no trem, na verdade foi um grande acidente e que todos ali estão mortos. Descobrimos também que Susana não está ali porque já crescida ela deixou de acreditar em Nárnia e agora vive uma vida fútil e vazia. Em seguida eles se encontram com Aslam. O verdadeiro Aslam.

O que acontece a seguir é o fim do mundo de Nárnia. Aslam que o criou decide que é chegado o tempo de destruir aquele mundo. O grupo composto pelas crianças, animais e Tirian vê tudo acontecer - e eu não vou descrever detalhadamente como é esse processo de destruição, porque ele é longo, cheio de situações importantes e que deve ser lido mesmo, não contado. Em seguida Aslam passa instruções para que eles sigam para um determinado local.

O grupo faz o que é pedido. Até que chegam em um grande portão. E quem os espera ali?

- Preciso fazer uma pausa pra dizer que esse foi um dos momentos mais 
emocionantes da história para mim

Quem os espera ali é Ripchip. O valente Ripchip. Ele abre os grandes portões e todos os outros seres que já viveram um dia em Nárnia - desde sua criação até seu fim - também estão ali. Caspian está a espera de seu descendente Tirian; também estão Trumpkin, Caça-trufas, Lorde Bern, Plumalume e Brejeiro. É possível ver também o cavalo alado Pluma - que no início de Nárnia carregou Digory e Polly em suas costas. E o rei Franco e a rainha Helena. Também está ali Tumnus, o fauno, para alegria de Lúcia. E outros tantos.

Ripchip, o valente ratinho - Crédito: Luana Ciecelski

Aslam então se aproxima. As crianças estão com medo do que ele vai dizer, pensando que ele as mandará embora como já fez em tantas ocasiões. Mas ele as tranquiliza. Não vai mandar embora. Seu lar agora será para sempre aqueles lugar, ao lado dos amigos.

CONSIDERAÇÕES

Gente, só posso começar essa considerações dizendo: "Que lindo. E que triste. Mas que lindo!"

Imaginem uma pessoa que leu aos prantos esse fim. Era eu. Não tive escolha. Me emocionei demais mesmo. Eu esperava pelo fim da história. Sabia que algo iria acontecer. Mas amei esse final feliz criado por Lewis. Eu não mudaria nadinha nele.

Além disso, há várias questões religiosas para serem apontadas, como de praxe. E acho que nessa história, Lewis procurou mostrar principalmente a ira de Aslam/Deus/Jesus, chamar a atenção para os "enganadores", para o destino dos descrentes, falar sobre o apocalipse, digamos assim e, claro, sobre o Céu, sobre a recompensa que terão aqueles que acreditaram em Aslam/Deus/Jesus.

O primeiro ponto que gostaria de destacar é a própria farsa criada pelo macaco Manhoso. Ele inventa toda a história sobre Aslam, claramente para conseguir alguns benefícios. Ele também diz ser o intermediador entre Aslam e os narnianos e isso é claramente uma crítica de Lewis. Ele também faz alguns discursos bem políticos.

"Viram só? - disse o macaco. - Está tudo acertado. E é tudo para o bem de vocês. Com todo esse dinheiro que irão ganhar poderemos fazer de Nárnia um país digno de se viver. Haverá laranjas e bananas à vontade... Haverá estradas, cidades grandes, escolas, escritórios, como também autoridades e armas, e selas, e cadeiras, canis, prisões... Tudo, tudo!"
Agora, esse é um ponto interessante. Lewis era católico e escreveu essas histórias com o objetivo de evangelizar as crianças. Mas acho que ele foi um pouco hipócrita quando tentou criticar outras religiões. Acredito que quando ele escreveu sobre uma farsa e um representante de Aslam, ele estava querendo criticar outras religiões. Mas pare e pense. A própria Igreja Católica não faz exatamente a mesma coisa? O que é o Papa se não o representante de Deus/Jesus. O que são os padres se não aqueles que intermediam entre Deus e as pessoas? E eles também não tiveram discursos políticos muitas vezes?

Deixo a questão no ar e sigo em frente.

Há também a questão do desaparecimento de Aslam. Ele fica muito tempo sem aparecer em Nárnia de forma que muitos deixaram de crer nele, por não poderem vê-lo - bem-aventurados os que creem sem ver - mas muitos, os melhores fiéis, as melhores pessoas acreditam que eles está e algum lugar, olhando pelas pessoas. Essa é claramente uma mensagem religiosa. Deus/Jesus não está aqui, mas está com nós.

Outra coisa que fica bastante destacado no texto é a questão do "Aslam sabe o que faz" versus o "Opa, ele é bom, não mau". Muitos seres acreditaram no macaco por pura cegueira. "Aslam não é um leão domesticado, ele é livre, faz o que quiser e sabe o que faz. Se ele está mandando fazer isso, mesmo que seja ruim, é porque devemos fazer", é mais ou menos isso o que dizem aqueles que seguem o macaco. Mas quem realmente conhece a verdade de Aslam sabe que não é bem assim. E essa é outra mensagem religiosa, porque Lewis está dizendo: "se mantenham em contato com Deus/Jesus, conheçam sua história e sua verdade para não serem enganados". Algo assim.

Uma das coisas que eu achei bastante chata, porque eu realmente abomino esse tipo de atitude, foi a crítica a outras religiões. Senti até mesmo uma discriminação. Lewis deixa bastante claro que não é possível existir vários nomes para o mesmo Aslam/Deus e que o Aslam é Aslam, outros deuses são farsas. Ele também descreve os deuses de outras religiões como o deus Tash, por exemplo, como um ser imundo, fedorento, feio e amedrontador, ou seja, como um ser diabólico - totalmente o inverso de Aslam, ele chega a afirmar. Ok, ok. Sei que a história precisa ter desses seres, mas sério, essa metáfora ficou feia. Acho que não é bem por ai.

Outra coisa que preciso destacar é o tal "Precioso". Quando li que o unicórnio tinha esse nome, imediatamente eu pensei em Tolkien. Bom, cada um com seus respectivos "Preciosos" né?! Mas achei engraçado e uma grande coincidência. Vocês não?

Bom, também acho que fica a seguinte questão: em Nárnia, seriam as crianças como anjos? Eles sempre veem para ajudar os narnianos, afinal de contas. Eu fiquei intrigada com isso.

Outra coisa ainda: o poder da oração. Quando Tirian está em perigo ele reza pedindo a ajuda e quem aparece? As crianças! Orações são poderosas!

E deixar de crer: isso é mau. Olhe o que aconteceu à Susana! Agora vive uma vida fútil e aparentemente legal, mas muito vazia. Essa é outra mensagem, né?! Não se desviem, crianças!

E por fim, preciso falar sobre o Céu. É o lugar que, de uma forma ou de outra, todos nós esperamos encontrar não é mesmo? Pelo menos se você foi criado como um cristão. Eu, particularmente, como Espírita, sei que não é beeeem assim, mas eu adoraria ir para o Céu e reencontrar aqueles que foram importantes pra mim, velhos e bons amigos. Achei o Céu de Lewis um lugar legal.

Vocês não acham?

Bom, por hoje é isso.
E essa foi a última das crônicas.
Na próxima semana faço uma resenha mais geral, sem tantos spoilers.
E em seguida partiremos para um novo projeto literário.

Vamos nos falando.
Beijos.

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