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Com o amor não se brinca | Mônica de Castro - Leonel

Olá amigos, tudo bom?

Terça-feira é dia de resenha, e nessa semana eu vou falar sobre o "Com o amor não se brinca", livro escrito pela Mônica de Castro e pelo espírito Leonel. Sim, é um romance espírita. Eu gosto muito de ler esse tipo de história, porque as considero inspiradoras. Até então, porém, eu não tinha falado sobre nenhuma delas aqui. Não sei ao certo o motivo. 

Penso que eu sempre considerei que esse era um gosto bastante pessoal, para um público específico, e não tinha me passado pela cabeça que eu poderia, sim, falar sobre esses livros aqui. Há algum tempo, entretanto, isso mudou, e eu estou feliz. Espero contribuir de alguma forma. Espero ajudar alguém que está procurando uma leitura desse tipo para fazer.

Com o amor não se brinca - Créditos: Divulgação

Pra quem nunca leu um romance espírita, acho que vale aqui um adendo para explicar rapidamente, com as minhas palavras, o que é. E basicamente, eu diria que é um romance, igual a esses que a gente lê, e que alguns até chamam de histórias "água com açúcar", com a diferença de que ele foi escrito por uma pessoa encarnada, com o auxílio de um desencarnado, através da psicografia. O espírito Leonel, no caso desse livro, ditou ou inspirou a história para que a Mônica colocasse no papel. 

De uma forma geral, essas histórias contam sobre vidas de pessoas - inspiradas ou não em histórias verdadeiras - e sempre trazem algum tipo de lição espiritual, nos falando sobre a evolução, sobre as provações pelas quais precisamos passar, sobre a influência do plano espiritual na nossa vida (para o bem e para o mal), sobre as pendências que deixamos em encarnações passadas, sobre os resgates que precisamos fazer, etc. Eles são uma forma bastante simples de compreender ensinamentos passados pela doutrina espírita kardecista.

Eu sei que muitas pessoas possuem crenças diferentes, e quero deixar bem claro aqui que eu respeito cada uma delas. Essas resenhas de livros espíritas - eu pretendo fazer mais delas - serão para aqueles que gostam dessas histórias assim como eu, ou para aqueles que possuem interesse em conhecer mais sobre o espiritismo e seus livros. Combinado? 

Então vamos ao livro. 

"Com o amor não se brinca" é uma história que mistura a encarnação presente e as encarnações passadas de duas famílias. Também é uma história sobre dores do passado, laços familiares, problemas que não foram resolvidos em outras vidas e que geram sentimentos ruins na presente encarnação. 

O enredo se passa há várias décadas, ainda no século 19, nas proximidades do Rio de Janeiro. Ele inicia com o velório do patriarca de uma dessas famílias (Licurgo) e logo sabemos que em função de sua morte, sua mulher (Palmira), seus filhos (Fausto, Rodolfo - os gêmeos - e Camila), genro e netos (Túlio e Dário) estão novamente reunidos na fazenda pertencente a eles, onde Licurgo foi enterrado. 

Também estão na fazenda Júlia, que é cunhada de Camila, mas que foi criada quase que como filha por ela, além da família do capataz e de diversos escravos que são da fazenda ou que vieram com a família do Rio de Janeiro. E é a partir desse reencontro familiar que uma série de situações é desencadeada, que almas se reencontram e sentimentos são despertados. Muitos destinos se cruzam.

É bastante difícil resumir essa história, porque assim como na vida real, nesse livro temos muitos detalhes importantes, reviravoltas, situações complexas. Contar cada uma delas, seria reescrever a história, praticamente. Esse post levaria dias para ser escrito e lido. Mas posso dizer que os personagens citados acabam se vendo envolvidos em uma trama, motivada principalmente por inveja e vingança. O principal envolvido na maior parte das situações ruins que acontecem com essas famílias, é Rodolfo. Ele que desencadeia muitas situações.

Pra começar, um dos principais acontecimentos é a paixão que Rodolfo e Fausto passam a sentir por Julia. A moça, porém, só corresponde a Fausto e eles planejam seu casamento. Rodolfo, primeiramente cego de paixão e depois apenas querendo destruir a felicidade de Fausto e Julia, tenta tudo o que passa por sua cabeça para afastá-los e impedir a união. Em dado momento, chega a quase ter sucesso.

Rodolfo também se envolve em um situação com o sobrinho Túlio e o escravo Trajano. Túlio, que já tinha antecedentes de paixão por escravas da família, começa a perseguir uma das jovens que trabalha na fazenda. Sua mãe percebe seu comportamento e pede que Trajano o observe. Rodolfo, também percebe e resolve incentivar a situação. Trajano tenta impedir, mas Rodolfo não tem qualquer respeito pelos escravos e resolve vingar-se de sua intervenção também. Bola então um plano para que Túlio possa ter a mulher que tanto quer enquanto Trajano observa.

O que eles não podiam imaginar, porém, é que esse plano sairia do controle de ambos e que a moça acabaria morrendo nas mãos de Rodolfo. Ambos conseguem esconder o corpo e convencer Trajano de ficar em silêncio. Quando o sumiço dela é notado, até é feita uma busca pela propriedade, mas as pessoas não demoram a concluir que a jovem acabou caindo nas águas de uma cachoeira onde ela costumava fazer oferendas.

Há também uma trama relacionada a segunda família, que é judia, e que aluga a fazenda vizinha, também pertencente a Palmira, para que a filha do casal possa se tratar do pulmões. Ela está com Tuberculose, como é constatado ao longo da história. Acontece que Palmira é bastante preconceituosa e não considera pessoas não cristãs, ou mesmo não católicas, como gente de bem, e por isso, Fausto faz as negociações do aluguel sem revelar muitos detalhes à mãe. Rodolfo descobre, porém, e se utiliza disso para fazer diversas chantagens ao longo da história.

Também temos o problema da própria moça judia, que se chama Sara. Ela é muito amiga de Camila e de Julia. Ambas as famílias conviviam muito já no Rio de Janeiro. Sara, inclusive, está noiva de Dário. Mas sua doença parece só piorar. Ela chega mesmo a ficar seriamente de cama, a ponto de sua família quase perder as esperanças, mas então, algo acontece que muda sua perspectiva de vida.

Em função de outros acontecimentos - coincidência ou não - ela começa a ter contato com um frei que chega à fazenda onde eles estão vivendo e esse padre, com sua mente muito aberta e evoluída para a época, começa a conversar com a moça sobre a possibilidade de ela estar doente do corpo por causa de algum tipo de moléstia da alma. A moça se abre para essa possibilidade e juntos, eles acabam dando ao leitor uma das mais bonitas lições do livro.

No capítulo 15, durante uma conversa com os pais de Sara - Ezequiel e Rebeca - Frei Ângelo diz o seguinte:

" - As enfermidades são apenas uma forma de nos mostrar que algo em nossa vida não vai bem. Elas nos indicam que há um desequilíbrio em nossas atitudes, apontando-nos o caminho para nosso restabelecimento, não só físico, mas também espiritual."
Camila que estava presente complementa:

" - Concordo plenamente com o senhor - interveio Camila. - Em minhas experiências no convento, tive a oportunidade de observar que todos aqueles que adoeciam tinham algum tipo de enfermidade na alma. Muitos eram tristes, outros eram rancorosos, outros ainda, viviam atormentados por culpa, mágoas, ressentimentos". 
Concordando com Camila, o frei diz ainda:

" - [...] Em uma das alas do hospital coloquei aqueles que sofriam de doenças relacionadas ao aparelho digestório. Em outra, acomodei os que sofriam dos pulmões, os que tinham problemas urinários e assim por diante. E sabe quais foram as conclusões que tirei?
- Quais?
- Em sua maioria, quem adoecia de problemas de fígado, eram pessoas que tinham muita raiva guardada dentro de si. Pessoas que alimentavam raiva por seus semelhantes, por seus pais, por seus desafetos, mas que não tiveram coragem de exprimir esse sentimento.
- Não acha que fizeram bem? - objetou Ezequiel. - Será que devemos agora sair por aí ofendendo, matando ou espancando as pessoas, só porque sentimos raiva delas?
 -  Não se domina um sentimento fingindo que ele não existe. Quem assim age, apenas mascara o sentimento, mas ele permanece ali, escondido, latente, sendo reprimido, quando deveria ser compreendido e externado.
- Ora, frei Ângelo - retrucou Rebeca -, se eu invejo alguém, por exemplo, sei por que exatamente estou invejando. Isso não é compreensão?
- Não se não aceitar para si mesma que o que sente é inveja. Na maioria das vezes, nós colocamos uma capa na inveja e ela vira crítica. Se eu invejo alguém, não posso fingir que não tenho inveja só porque isso é feio ou reprovável pela sociedade. Não. Em primeiro lugar, tenho que aceitar que o sentimento existe e que é real. Em segundo lugar, devo tentar entender os motivos que me levaram a invejar, e eu preciso reconhecer que o sentimento parte de mim, nasce de uma incapacidade minha para alguma coisa. E, por fim, é preciso que eu o aceite e aprenda a conviver com ele, o que não significa que eu tenha que me resignar com a inveja e estimulá-la. Quando digo conviver com esse sentimento, quero dizer que devo aceitá-lo como algo que existe em mim e que me incomoda, que faz mal a mim e a meus semelhantes. Se me faz mal, é preciso transformá-lo em algo positivo, e eu posso então aprender a direcionar essa inveja para construir algo que eu julgava impossível, mas que só depende de minha força de vontade e do meu grau de determinação".
- Não, em absoluto. O ser humano deve agir com discernimento e respeito, e jamais deve se deixar levar pelos impulsos e invadir a vida de seus irmãos.
- Então concorda comigo que a raiva é um sentimento que deve ser dominado, e não estimulado. 
Acho que com esse trecho vocês deverão compreender o que eu quero dizer quando comento que o livro é cheio de lições e mensagens inspiradoras. É algo para levarmos para as nossas próprias vidas, né?! 

Bom, para finalizar, há ainda uma série de pequenas situações que acontecem ao longo da história. Há vingança também relacionada a acontecimentos dessa encarnação. Há brigas e discussões entre familiares. Há intrigas feitas por pessoas maldosas. E grandes revelações são feitas. 

Eles nem imaginam, mas tudo tem uma razão de ser. Mesmo aquelas situações mais revoltantes têm uma justificativa no passado. E ninguém, nem mesmo aqueles que parecem injustiçados, passam por situações que não devam passar. Ao leitor, muitas coisas sobre as vidas passadas desses personagens é revelado, e descobrimos que aquele que matou foi morto anteriormente ou viu alguém muito querido morrer e jurou vingança. Também descobrimos que as relações familiares tem um motivo de ser e que sentimentos como a solidão e a sensação de abandono podem deixar marcas muito profundas no espírito. 

Por fim - sem dar muitos spoilers - posso dizer que o final é feliz e que o amor consegue salvar mesmo aqueles que pareciam não ter mais salvação. Também descobrimos que os planos que Deus e a espiritualidade tem pra nós são justos. Sempre. Mesmo que não pareçam aos nossos olhos nessa vida. 

E acho isso absurdamente lindo, mesmo que não seja muito fácil de aceitar. Mesmo que a aplicação dessas lições na prática seja muito mais difícil do que na teoria.

E mais não posso contar. Lamento muito. 
Mas sugiro a leitura. De todo o meu coração. Pois cada página é uma lição. Mesmo. 

E ai, o que acharam dessa resenha e desse livro espírita?
Haverá ainda outros livros como esse que pretendo ler e comentar. Fiquem ligados.

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