Olá pessoal, tudo bom?
Hoje vim aqui pra falar de um livro que eu sentia vontade de ler há muito tempo, vontade que só aumentou depois da última Feira do Livro de Santa Cruz – em setembro do ano passado – quando tive contato com o autor, Tabajara Ruas. Trata-se dos Varões Assinalados. A leitura escolhida para o mês de março, no desafio dos 12 livros para 2018.
Os motivos para a minha vontade, eram três. O primeiro, a força de Tabajara porque sempre soube que ele era um grande escritor. Segundo, o fato de o livro nos contar a história da Revolução Farroupilha, episódio histórico que eu adoro. E terceiro, pelo fato de que uma das minhas escritoras favoritas – a Letícia Wierzchowski – teve sua inspiração para escrever A Casa das Sete Mulheres a partir dessa história, como ela mesma contou quando esteve aqui em Santa Cruz na Feira do Livro, junto com o Tabajara.
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Os Varões Assinalados do Tabajara Rua - Crédito: Luana Ciecelski |
Dito isso, vamos à história. Como já disse ali em cima, esse livro nos conta sobre A Revolução Farroupilha. São 543 páginas onde estão inseridos os principais acontecimentos dos 10 anos de guerra, sob o ponto de vista dos principais comandantes da revolução, como Bento Gonçalves, Netto, Onofre Pires, Canabarro, entre outros. E preciso dizer: eu tinha muitas expectativas em relação ao livro, e todas foram alcançadas e superadas. Foi uma leitura incrível e desde já eu indico ela para todos.
E não são só os fatos históricos que me interessaram, mas a forma como eles são contados é muito interessante. Os pontos de vista diferentes, que incluem as conversas e pensamentos dos imperialistas ajudam a compreender a guerra – mesmo que Tabajara tenha se utilizado de um pouco de ficção para preencher lacunas e contar detalhes. Há muitos ensinamentos sobre estratégias de batalha também, sobre confiança e desconfiança.
Também ouvimos falar muito de Rio Pardo, cidade vizinha à nossa, à qual Santa Cruz pertenceu, inclusive. A Batalha do Barro Vermelho que aconteceu ali em 1838 é contada em detalhes. Também vemos o desenrolar dos fatos na Campanha, na Serra, no cerco à Porto Alegre e claro, em Santa Catarina, especialmente Laguna e Lages. Ao terminar de ler o livro, eu me sinto um pouco mais conhecedora desse meu Rio Grande e da história da nossa região.
Há também toda a bravura dos combatentes e o retrato de Anita Garibaldi entre eles, ao lado de seu amado Giuseppe. Eu adoro a história deles e ver que tudo aquilo que eu já tinha lido sobre eles, inclusive com os textos da Letícia Wierzchowski, bateu perfeitamente, é tão lindo.
Outro trecho emocionante é o que acontece entre as páginas 383 e 407, mais ou menos. Acompanhamos alguns acontecimentos através de Bento Gonçalves. Nessa altura do livro o então Presidente da República Rio-Grandense já está cansado da guerra e das responsabilidades que ela lhe impôs. Ele envelheceu. Está doente e cansado. E o trecho mostra isso de uma forma tão bonita. Mostra uma transformação. É, de certa forma, o fim de suas forças e o fim da revolução, porque toda a luta parece depender de sua energia. Mas sua energia está no fim.
"O general Bento Gonçalves da Silva olha as mãos. Procura descobrir um resto daquela luz do fim de tarde que descia dos cinamomos. Não sobrou nada como não sobrou migalha de carícia, nem de fúria ou tédio ou dos delírios da juventude na fronteira, onde uma energia incomum o assinalava entre todos os varões do Continente para acumular bens, dominar os seres e ser amado sem o incômodo da resposta. Há manchas nessas mãos. Manchas escuras. Manchas que aparecem sem aviso, sem dor, sem surpresa. É a velhice que se instala nelas - e estão vazias, sem migalhas de nada".
E por fim, outro ponto que eu adorei foi o alívio cômico de alguns momentos. Quem leu A Casa das Sete Mulheres – como eu - se acostumou a ver a história do ponto de vista feminino, a partir dos relatos de Manuela em seu diário, dos diálogos das mulheres da família de Bento Gonçalves durante suas esperas. E nesse livro, ao contrário daquele, eles são homens meio brutos, grosseiros.
Há por exemplo, o momento em que Onofre dita uma carta - ele sabe ler e escrever muito mal - onde conta sobre uma batalha e sobre as pessoas que morreram nela. Os fatos são tristes e entre uma frase e outra ditada, Tabajara nos mostra suas ações. Ele vê o sangue que ainda está na bota, pensa em limpá-la e dita mais um trecho. Ele consulta as horas e dita mais um trecho. Ele escuta os sons do acampamento. Nenhuma coruja pia. E então solta essa:
"Dá aqui essa bosta pra eu assinar."
Ri muito nessa parte porque tudo se encaminhava para um desfecho triste. O clima do trecho o livro e da própria carta era pesado, em tom de lamentação. Mas então, essa frase dele, que encerra o capítulo, alivia esse peso. Achei isso incrível!
Dito isso, comentado sobre o livro, reitero aqui a indicação da leitura desse livro e desse escritor gaúcho que é bom demais. É uma história que parece longa, mas acredite: depois que tu inicia ela, não quer mais largar. É muito prazerosa mesmo.
Beleza então?
Um super abraço.
E um beijo também.
SOBRE O LIVRO
Título: Os varões assinalados
Autor: Tabajara Ruas
Editora: Mercado Aberto
Lançamento: 1985
Páginas: 543
Também escrevi sobre esse livro na coluna de hoje do Riovale Jornal. Vocês podem conferir aquele texto, um pouquinho diferente desse aqui (mais resumido) nesse link.
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