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A Revolução dos Bichos | George Orwell

Oiie pessoal, tudo bom?

No post de hoje venho falar sobre o livro A Revolução dos Bichos, do George Orwell. Eu fiz a leitura recentemente para o clube de leitura do qual participo na minha cidade e simplesmente adorei esse livro. Principalmente porque essa é uma daquelas leituras que nos marcam e nos ensinam muito. Inclusive sobre política, história e sobre a vida em sociedade.



Minha relação com esse livro é até engraçada. Há alguns anos ganhei uma edição do meu avô, em meio a uma série de outros volumes. Na época eu devia ter cerca de 14 anos e dei uma folheada no livro, mas não achei que aquela seria uma leitura interessante. Parecia uma fábula. Algo sobre animais em uma fazenda. Parecia até algo um pouco infantil. Então peguei o livro e coloquei em uma pilha de doações para a biblioteca da cidade. 

Qual não foi o meu arrependimento depois que chegou às minhas mãos o livro 1984 do mesmo autor, algum tempo depois. Eu me dei conta então de que tinha doado um livro possivelmente muito bom. Me arrependi em parte, porque gostaria de ter aquele livro para lê-lo também, mas por outro lado, eu espero que alguém tenha feito bom proveito dele.

A grande sacada desse livro, lançado em agosto de 1945, está justamente nessa questão de parecer uma fábula. Porque assim, essa parece uma história sem qualquer pretensão muito profunda. No entanto, nas entrelinhas dos acontecimentos que envolvem os personagens, nós temos uma história intensa, cheia de significados, profunda, e uma clara alusão à Revolução Russa. O texto é considerado como uma novela.

Resumo

Certo dia, cansados de serem explorados, os animais de uma fazenda localizada em algum lugar no interior da Inglaterra, resolvem iniciar uma revolução. Eles querem independência, querem mais acesso a tudo aquilo que eles produzem e querem viver de acordo com as próprias regras, em uma fazenda onde todos sejam tratados de igual pra igual, sem diferenças e sem privilégios. Eles iniciam esse processo depois que um grande, velho e sábio porco faz um discurso a respeito do tipo de vida que eles levam e apresenta um estilo de vida novo. Uma promessa de felicidade para todos. 



É bolado um plano e então, depois de alguma luta, eles conseguem expulsar os humanos da fazenda. Eles imediatamente comemoram e passam a estabelecer, em reunião coletiva, as regras que deverão ser seguidas por todos. Num primeiro momento tudo parece seguir muito bem. Os planos são bons e parecem promissores e todos estão muito satisfeitos. Está estabelecido o "Animalismo" (que corresponderia a algo como o Socialismo) e a até então Granja do Solar passa a se chamar Granja dos Bichos. Os principais mandamentos ou leis a serem seguidas são as seguintes:

1. Qualquer coisa que ande sobre duas pernas é inimigo.
2. Qualquer coisa que ande sobre quatro pernas, ou tenha asas, é amigo.
3. Nenhum animal usará roupas.
4. Nenhum animal dormirá em cama.
5. Nenhum animal beberá álcool.
6. Nenhum animal matará outro animal.
7. Todos os animais são iguais.

Mas então, passado algum tempo, um grupo de porcos, comandados por um porco chamado Napoleão, começa a agir de forma diferente. Eles acreditam que "todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais do que outros". Baseados nisso eles tomam o poder, expulsando da fazenda o líder original da revolução, que era o porco Bola-de-Neve, e assumem o governo. Mas esse governo, muito sutilmente vai mudando algumas regras. Para eles, por exemplo, os porcos precisam, sim, de mais alimento, porque eles são aqueles que pensam e governam e isso é cansativo. Eles também merecem habitar a antiga casa dos humanos, porque precisam de um local de onde governar. 

Sutilmente e imperceptivelmente, esse governo vai se tornando um tirano. Aos poucos os animais perdem sua liberdade de expressão e os direitos adquiridos pela revolução. Sua memória é manipulada, assim como suas crenças. Aos poucos a vida vai se tornando muito pior do que era, mas eles não percebem isso porque já não lembram com certeza como era a vida antes. E assim a novela distópica segue até o desfecho final, passando por execuções de animais "traidores" do governo, sob a justificativa de que "nenhum animal matará outro animal, SEM JUSTIFICATIVA", entre outras brutalidades. Ao fim disso tudo, todos os mandamentos foram alterados de alguma forma ou de outra. 

Sobre a importância da imprensa e do senso crítico

Com tudo isso, esse livro me fez pensar sobre a importância da imprensa. Mas não de uma imprensa qualquer e sim aquela imprensa de verdade (hoje quase utópica), isenta e independente, como se aprende nos cursos de Jornalismo. Por que a imprensa? Por causa do registro dos fatos tais quais eles acontecem. Para que se tenha uma memória coletiva dos acontecimentos. Para que se possa consultar essa memória posteriormente e compará-la. Para que não nos esqueçamos tão facilmente dos nossos ideais. E sinceramente... 5 anos de graduação não me mostraram tão bem a importância da imprensa quanto esse livro.

Outro aspecto interessante desse livro é que ele nos desperta o senso crítico. Ele nos diz pra nunca acreditarmos cegamente em nada (principalmente em informações oficiais do governo). Ele nos fala sobre o perigo dos radicalismos, mas sobretudo, sobre o perigo do poder quando esse é dado a alguém sem que exista qualquer tipo de vigilância ou questionamento. Ele nos deixa com um certo desanimo, porque nos faz pensar que não existe solução mágica para os problemas da sociedade porque os seres são vulneráveis, corruptíveis e tolos. 

Por outro lado, eles nos fala sobre a revolução interna e mostra que ela é o caminho para a mudança. Se houver a mudança dentro de nós mesmos, aos poucos vamos mudando o nosso entorno. Essa mudança é menos radical e muito menos imediata, mas muito mais efetiva. Porque quando a mudança é externa apenas, ela deixa de funcionar muito cedo. No caso do livro, os ideais eram maravilhosos, mas o cavalo tolinho continuou sendo um tolinho e não percebeu a piora das coisas, a vaca vaidosa continuou desejando suas fitinhas e não viu graça em uma vida de igualdade, as cabras que só sabiam imitar e repetir aquilo que lhes diziam, continuaram fazendo isso, sem pensar se o que estavam repetindo estava certo ou não. Então logo tudo desandou.

Sobre o autor

George Orwell na realidade é um pseudônimo utilizado por Eric Arthur Blair. Ele nasceu na Índia Britânica em 1903 e faleceu em 1950. Durante sua relativamente curta carreira, serviu ao exército e também foi jornalista e ensaísta, além de escrito, é claro.


Entre suas obras mais marcantes, além de a Revolução dos Bichos (ou Animal Farm, no original), está o volume já citado 1984, que foi lançado em 1949. Assim como o A Revolução, toda a sua obra é marcada por uma inteligência perspicaz e bem-humorada, uma consciência profunda das injustiças sociais, uma intensa oposição ao totalitarismo e uma paixão pela clareza da escrita.

Pra saber mais

Algumas curiosidades interessantes, sobre história, música e muito mais, relacionadas ao A Revolução dos Bichos.

Resenha muito boa da Tati Feltrin do A Revolução dos Bichos.

Filme animação sobre A Revolução dos Bichos, de 1954, com 1h12 de duração

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