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O Apanhador no Campo de Centeio | J. D. Salinger

Olá pessoal, tudo bem? 

No post de hoje quero conversar com vocês a respeito do livro O Apanhador no Campo de Centeio. Eu fiz essa leitura durante o mês de março para o Clube de Leitura do qual eu participo aqui na minha cidade e fiquei com muita vontade de trocar uma ideia. Primeiro, porque quero apresentar a minha opinião sobre ele, e segundo, porque quero que vocês me falem sobre a experiência dessa leitura para vocês também, certo? Então vamos lá!



Nessa história somos apresentados ao jovem Holden Caulfield, filho de uma família de classe alta de Nova Iorque. Aos 17 anos eles está sendo expulso - mais uma vez - da escola particular onde ele estava matriculado até então - o Colégio Pencey. Isso por causa de seu mau - péssimo - desempenho nas disciplinas - exceto em Inglês. 

Pouco antes do dia em que terá de voltar para casa, entretanto, Holden decide abandonar a escola. Sem ter um rumo certo, ele sai no meio de uma madrugada, embarca em um trem e vai à Nova Iorque. Chegando lá, se hospeda em um hotel e passa algum tempo vivendo algumas experiências. Elas estão relacionadas a esse seu momento de vida, às descobertas adolescentes, como sexualidade, alcoolismo, tabagismo, arte, cultura e relacionamentos. Ele não tem sonhos concretos, nem planos para o futuro. Apenas vontades passageiras. 

Essa história se passa no período de tempo de alguns dias, no mês de dezembro de 1949. Ela é narrada pelo próprio Holden e por isso acompanhamos muito de perto, não apenas suas experiências, mas também seus pensamentos e sua forma de ver o mundo. E esse é um fato importante, porque Holden é, sem dúvida, um adolescente extremamente insatisfeito e crítico.

E essa crítica é um aspecto interessante do livro, porque todas as experiências de Holden são tocadas por um excesso de revolta com o mundo à sua volta. Ele chega a ser um tanto quanto contraditório em alguns momentos, o que é bastante natural, porque ele mesmo está em processo de autodescoberta, mas por outro lado, há momentos em que ele faz reflexões interessantes sobre o mundo, questionando muitos padrões, estilos de vida e comportamentos. 



Entretanto, durante todo o livro, Holden me pareceu um menino um pouco mimado demais. Alguém que reclama demais, e que nunca passou por realmente nenhuma necessidade ou dificuldade real para ser tão chatinho. Ele me parece bastante egoísta e ingrato, principalmente com seus pais. Nesse aspecto, o personagem, ao meu ver, ficou exageradamente clichê na tentativa de parecer um adolescente. 

Por outro lado, como elogio, preciso dizer que a linguagem utilizada pelo autor é muito bacana. Ele escreveu o livro de tal forma que nós realmente temos a sensação de estar dentro da mente ou muito próximos de um adolescente. Talvez, nos dias atuais, as gírias seriam outras, claro. Não se pode esquecer que esse volume foi escrito e lançado na década de 1940. Mas ainda assim é uma leitura diferente. No duro. Como diria Holden. 

Então, esse pode ser considerado um dos grandes méritos desse livro. Durante a conversa do clube de leitura nós concordamos que esse foi um dos primeiros volumes da história a realmente dar voz a um adolescente. Foi um dos primeiros a falar sobre as angústias dessa fase e o primeiro que tentou colocar o leitor no lugar desse jovem. Esse é um livro que fala, sobretudo, da solidão que faz parte - no fundo - do processo de crescer. 

Holden pode ser irritante em muitos casos, até para ele mesmo. Em vários momentos eu cheguei mesmo a pensar em desistir dessa leitura mais vez, porque sim, eu já havia tentado lê-lo antes, há cerca de cinco ou seis anos atrás, mas não consegui chegar ao final. No entanto, passados alguns dias do fim da minha leitura, percebo que essa é, talvez mais uma das sacadas do livro. 

Salinger talvez quisesse dizer "a juventude tem suas durezas, sabe?" e ainda "olhem com mais empatia para eles, olhem do ponto de vista deles". Ele faz muita questão de mostrar, por exemplo, que no fundo, apesar de ser um adolescente clichê, Holden não é de todo mau. Ele pensa também em coisas bacanas e se preocupa com aqueles que ele ama, como por exemplo sua irmã mais nova, Phoebe. Ele também sente saudades de seu irmão já falecido. 

E esse seu lado "bom e ruim" estão também relacionados ao título. Mas preciso dizer que, pelo menos para nós brasileiros, esse título e essa intenção não é clara. Eu tive muita dificuldade de compreender o significado de "The Catcher in the Rye", que em tradução literal seria "O apanhador no centeio", parecido com o título da tradução que é "O Apanhador no Campo de Centeio".

Lá pelas tantas do texto, quando Holden está caminhando por uma rua de Nova Iorque ele ouve uma menina cantando uma cantiga que fala sobre ser um apanhador no centeio. Mais tarde ele fala à sua irmã que se ele pudesse, ele teria como profissão ser um apanhador de crinaças num campo de centeio, impedindo-as de cair no precipício. O trecho é esse: 
”- Você conhece aquela cantiga: “Se alguém agarra alguém atravessando o campo de centeio”? Eu queria…
- A cantiga é “Se alguém encontra alguém atravessando o campo de centeio”! - ela disse. - É dum poema do Robert Burns.
- Eu sei que é dum poema do Robert Burns.
Mas ela tinha razão. É mesmo “Se alguém encontra alguém atravessando o campo de centeio”. Mas eu não sabia direito.
- Pensei que era “Se alguém agarra alguém” - falei. - Seja lá como for, fico imaginando uma porção de garotinhos brincando de alguma coisa num baita campo de centeio e tudo. Milhares de garotinhos, e ninguém por perto - quer dizer, ninguém grande - a não ser eu. E eu fico na beirada de um precipício maluco. Sabe o quê que eu tenho de fazer? Tenho que agarrar todo mundo que vai cair no abismo. Quer dizer, se um deles começar a correr sem olhar onde está indo, eu tenho que aparecer de algum canto e agarrar o garoto. Só isso que eu ia fazer o dia todo. Ia ser só o apanhador no campo de centeio e tudo. Sei que é maluquice, mas é a única coisa que eu queria fazer. Sei que é maluquice.”

Eu fiquei pensando muito nisso, e as meninas do clube relataram a mesma situação. Depois de alguns dias, no entanto, concluí que talvez essa cantiga ou poema, esteja ligada a uma cultura, à qual nós não estamos familiarizados, e por isso, obviamente, fica mais difícil compreender o significado. Nesses casos é preciso ir atrás de mais informações o que descobrimos, também durante a conversa do clube de leitura, é que quando Holden diz que quer ser um apanhador no campo de centeio, alguém que salva as crianças do precipício, na verdade, ele quer dizer que quer ser alguém que salva as crianças da vida adulta, mantendo-as para sempre crianças. 

Isso faz sentido pra vocês? 

Eu ainda estou pensando sobre isso. Se for assim mesmo, como disse lá em cima, isso mostra o lado bom e ruim de Holden. Quer dizer, ele é extremamente egoísta na maior parte do tempo, mas ele percebe a transformação que está acontecendo com ele, e percebe que a infância era mais fácil, e por isso, ele gostaria de poder ajudar outras crianças a permanecerem inocentes e felizes. É bastante complexo, vocês não acham?  

Bom, e pra finalizar, eu não podia deixar de citar as várias polêmicas relacionadas a esse livro, como a de que ele seria um dos volumes preferidos de assassinos e psicopatas, e a que teria inspirado o assassinato de John Lennon, em 1980 - o assassino estava com o livro no dia do crime e teria declarado posteriormente que havia se inspirado em Holden. 

Foto histórica de John Lennon (direita) e seu assassino
Foto: Paul Goresh

Acontece que inicialmente nem eu nem as meninas do clube conseguimos identificar efetivamente o que levaria alguém a cometer um assassinato após a leitura desse volume. Uma das integrantes propôs que não tenhamos feito nenhuma associação porque não temos uma mente psicopata (ufa!). Após um distanciamento da leitura, porém, acho que consigo imaginar uma relação. 

Não é que Holden incite à violência, mas ele com certeza é um adolescente bastante problemático, desajustado, mentiroso e que se deprime com muita facilidade, o que alimenta muito sua rebeldia. Seu senso crítico - já citado anteriormente - se volta contra tudo e todos e em algumas partes do livro, inclusive contra o cinema e a música, entre outras formas de arte. E eu não me admiraria se alguém com um espírito semelhante ao de Holden tivesse todos esses sentimentos aflorados após a leitura do livro. 

Porque de fato esse livro nos deixa pensativos. Nos afeta de alguma forma. Nos deprime um pouco mesmo, pensando bem. 

Diante de tudo isso, eu diria que a leitura não é ruim, mas eu não a colocaria entre as melhores da minha vida. Ela fica bem longe disso, na verdade. Mas essa é uma experiência minha, é claro. Além disso, eu também não o leria novamente. Pelo menos não tão cedo. (Mas sei também, que numa leitura futura, posso ver esse livro de forma diferente, porque eu terei mudado, então, quem sabe, né?!)

Ainda em relação a essa minha experiência de leitura, eu fiquei pensando sobre o sucesso de vendas (e preço do livro, porque eles está bem salgado) e tendo a acreditar que isso se deve muito mais pela curiosidade em torno da história - coisa que eu mesma tinha - em função das polêmicas que a envolvem, do que pela qualidade do livro efetivamente. 

O que quero dizer é que eu entendo sua importância e seu papel e recomendo a leitura, sim. Acho que esse volume deve estar nas listas de todos (ou quase todos), em especial daqueles que amam a literatura como eu, porque para esses, essa é uma experiência necessária. Além disso, também acho que a leitura é válida porque depois de "O Apanhador" outras coisas foram lançadas sob essa perspectiva adolescente, mas a maioria delas não pode ser considerada muito melhor. Elas costumam ser bastante vazias. E isso, o "O Apanhador" com certeza não é. 

E então, o que vocês acharam desse livro e dessa leitura? Qual a opinião de vocês? Concordam comigo ou discordam totalmente? Por favor, me contem, ok?!

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